Os pianistas Fábio Caramuru e Marco Bernardo interpretam Meu amigo Radamés
Gravação realizada no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação, em 13 de outubro de 2014.
Sobre Jobim e Radamés até a construção de Brasília
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Outro músico que desconhecia as fronteiras entre o erudito e o popular, e que teve profunda influência na obra de Tom Jobim, foi Radamés Gnattali. Os dois trabalharam juntos na gravadora Continental, onde Tom ingressou em 1952. Radamés era já um compositor e arranjador consagrado, e foi praticamente um pai musical para Tom, incentivando-o e dando preciosas dicas de composição e orquestração.
Por sugestão de Radamés, Tom compôs Lenda, uma obra para piano e orquestra sinfônica, que mescla o caráter impressionista típico de Debussy com o romantismo lírico de Rachmaninov. Quando completou 28 anos, Tom recebeu de Radamés um importante convite: reger Lenda no programa Quando os maestros se encontram, da Rádio Nacional, com Radamés ao piano.
A orquestra da Rádio Nacional era formada por músicos do mais alto calibre, muitos dos quais tocavam também na Orquestra Sinfônica Brasileira e na Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Não foi uma experiência fácil para Tom, que não estava acostumado a reger, mas Radamés, sentado ao piano, ajudou o inexperiente maestro dando entradas para os músicos da orquestra. Percebemos a importância que este evento teve na vida musical de Tom Jobim pela frase que ele disse naquela noite aos seus parentes e amigos, que saíram para celebrar com ele após o concerto: “Agora posso morrer. Qualquer lotação pode passar por cima de mim.”
A próxima obra sinfônica de Tom Jobim teve envergadura ainda maior: Sinfonia da Alvorada, para vozes e orquestra, em cinco movimentos, sobre textos de Vinicius de Moraes. A obra foi encomendada em 1958 por Juscelino Kubitschek, para ser apresentada na inauguração de Brasília em 1960. Tom trabalhou nela na mesma época do lançamento de Chega de Saudade e outras canções que assegurariam o sucesso da Bossa Nova. Tal qual as sinfonias e poemas sinfônicos de meados do século dezenove — como nas obras de Berlioz, Liszt e, posteriormente, Richard Strauss — Tom concebeu Sinfonia da Alvorada como uma obra programática. O primeiro movimento descreve em música a paisagem do Planalto Central; a chegada dos pioneiros e a construção da capital são abordados do segundo ao quarto movimentos; a quinta e última parte consiste em um coral comemorativo da conclusão dos trabalhos de construção.
Fonte: http://www.danielwolff.com.br/arquivos/File/Jobim.htm