Quem me conhece na intimidade sabe o quanto a perda precoce da minha mãe afetou a minha vida. Eu tinha pouco menos de 5 anos de idade quando ela partiu, em 1961. Ultimamente, andava sonhando muitas vezes com o apartamento onde morávamos na época, no Jardim Paulista. Todas as minhas memórias mais fortes sempre habitaram aquele espaço. Em sonhos recentes, tenho reencontrado todos os detalhes, a planta dos ambientes, os objetos, as cenas vividas quando eu era criança, ao lado dela e de meu pai.
Tomei uma decisão e, finalmente, em setembro, fui ao antigo prédio e consegui visitar o apartamento, que, para minha surpresa, estava vago. Tive muita sorte, pois o zelador estava na entrada e, após uma breve conversa, fui autorizado a entrar. A emoção que senti foi muito intensa. Muitas das cenas de décadas atrás voltaram claras e vivas, com cheiros, sons diversos, e até pude tocar novamente objetos como torneiras, fechaduras, elevadores e portas, que ainda estão exatamente como eram (mal pude acreditar). O impacto dessa visita foi tão grande, que pude ouvir na minha mente até o timbre suave da voz da minha mãe, sentir seu doce perfume e o calor de seus abraços.