Memórias da minha Mãe | Fábio Caramuru | Ilustrações Guto Lacaz
Minhã mãe se foi tão cedo
Eu apenas uma criança
Ficou assim um vazio
Cheio de ausência e saudade
Já adulto, onde quer que eu vá
As memórias viram presença
Fecho os olhos e a reencontro
Em cenas de alento e afeto
Saudade da minha mãe
De tê-la sempre por perto
Cena 1
No apartamento da Avenida Nove de Julho, em São Paulo, estou na cama dos meus pais, no meio dos dois, debaixo do lençol, chutando as cobertas, rindo e fazendo bagunça.
Cena 2
Na casa da minha tia Olgaides, na Rua Cravinhos, minha mãe separa um ovo para levar ao apartamento. Eu quero pegar o ovo de qualquer jeito, mas ela diz que não. Insisto até conseguir. Assim que pego o ovo, ele escapa e vai ao chão. Ela fica brava e dá um tapa em minha mão.
Cena 3
É época de São João. Estou no Jardim da Infância no Colégio Santa Margarida. Minha mãe vem trazer a roupa de caipira, para a festinha da escola, e me troca em uma salinha (provavelmente em junho de 1961).
Cena 4
Estamos eu e meus pais em uma avião Constellation manobrando de noite, no aeroporto. Olho pela janela e vejo aquele monte de luzinhas na pista e fico imaginando como é que o avião passa por cima delas sem quebrá-las… (viagem ao Nordeste, julho de 1959).
Cena 5
Estamos em uma casa na Avenida Nove de julho, sentados em um sofá, minha mãe conversando com uma mulher, há um gato ou gatos por perto. Vejo um detalhe do rabo em um vão do sofá e penso se tratar de um outro ser independente de seu dono. Um rabo com vida própria! 😆
Cena 6
Estamos, eu e meus pais, viajando de DKW, um carro vermelho de capota branca – modelo de 1960, em uma estrada (provavelmente para Serra Negra ou Poços de Caldas) e minha mãe canta uma música que faz referência a um gavião. Que música seria essa?
Cena 7
Estamos andando de mãos dadas na Rua Cravinhos, indo à venda do Seu Valentim, na esquina com a Alameda Casa Branca. Minha mãe compra para mim um chocolate comprido da Nestlé, com sabor de mel.
Cena 8
Estou com meus pais no carro DKW, chove muito forte e eu no banco de trás, observando a água sem fim batendo no vidro e me impedindo de ver as coisas do lado de fora (1960).
Cena 9
Estou sentado no colo da minha mãe, no banco do nosso piano amarelo Karl Peiter, ela me ensina alguma musiquinha simples, tocada apenas com o dedo indicador.
Cena 10
Estamos eu, minha prima Joyce e minha mãe dirigindo o DKW na Avenida Nove de Julho, naquele trecho em que ela cruza a Av. São Gabriel na direção sul. Ela entra com o carro na contramão, no ponto em que as pistas se dividem. A prima Joyce fica muito assutada e grita, desesperada, avisando que estamos na contramão (1960).
Cena 11
Um grande grupo de pessoas da família está na Pizzaria Paulino, na Rua Pamplona. Minha mãe bebe água tônica, peço para provar, acho amargo e faço uma careta!
Cena 12
Estou brincando com uns bonequinhos de plástico, de personagens da Disney, na pia do banheiro. Minha mãe me vigia, enquanto descansa no quarto em frente, no apartamento da Avenida Nove de Julho.
Fábio !
Passagens vivas, emoções registradas na memória infantil , esculpidas no coração, para a eternidade !
Um beijo ,
Cátia Sandoval
Que coisa mais maravilhosa!!! Tocante e profunda! Lindos poema e ilustrações. Beijo, Fábio!
Que coisa mais maravilhosa!!! Tocante e profunda! Lindos poema e ilustrações. Beijo, Fábio!
Lindas e queridas recordações!
Beijo grande pra você !
Quanta emoção e que deliciosa viagem eu também fiz nas memórias de meu pai. Fábio que sensibilidade incrivel, só você mesmo e o Guto captando essa essência toda!
FC, impressionante vc se lembrar dessas cenas em que era tão pequeno e há tantos anos, quando se ama, não se perde. Obrigado por compartilhar lembranças tão caras de sua amada mãe!
*Fábio querido… quanta doçura, quanto amor e emoção nas lembranças da mãezinha amada… lindo demais….⚘
Fábio, conheci D. Neyde. Tenho uma vaga lembrança dela. Eu morava na Cravinhos. Não vejo você desde aquela época mas recebo informações suas através do Loló. Lindo texto! Fiquei muito emocionado! Um abraço.
Deliciosas textos. Bonitos essas cenas-poemas com a delicada ilustração do Guto Lacaz. Parabens pela exploração de novas formas de expressão.
Fábio, conheci seu Pai Ronald quando morava na Rua Flavio Maurano, vai fazer 05 anos que nos deixou, saudades viu, um grande abraço, estamos juntos aí tá.
Muito bom.
Bonito, poesia de letras, lembrança e traços