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Moods Reflections Moods (2004 – ECHO 204)

Primeiro CD autoral do pianista Fábio Caramuru, lançado em 2004 pela Echo. Nesse CD com 10 faixas, Fábio Caramuru rompe com a tradição da interpretação erudita, voltando-se para um trabalho de livre improvisação. A gravação foi feita em uma única sessão num piano Steinway, modelo D-Concerto, alcançando um alto nível técnico. O CD marca o início do aprofundamento do estilo pessoal do pianista, lançando-o como compositor. Gravação feita pelo Estúdio do Gato no Espaço Promon, em 22/12/2003. O Projeto gráfico é de Guto Lacaz.

Matéria escrita por Jerome Vonk, publicada na Gazeta Mercantil em 17 de abril de 2004:

Fábio Caramuru é um cara muito corajoso.

Em um dos momentos mais negros da indústria fonográfica brasileira, cujo mercado está sendo destruído a golpes de pirataria física e de concorrência predatória, ele resolve lançar um CD que nenhuma gravadora, seja independente ou multinacional, teria a coragem de distribuir no minguado circuito comercial.

Moods, Reflections, Moods traz uma música difícil de se rotular, o que é usualmente considerado um sacrilégio – e um suicídio mercadológico – nesta época onde já recebemos tudo pré-mastigado, etiquetado e com as sempre detalhadas instruções de uso, para não se fazer feio. Não é jazz nem música erudita (no sentido estrito de suas possíveis definições); não vai tocar na trilha da novela nem passar no rádio. Se, ainda assim, alguém mais angustiado precisar de uma definição, música para quem tem ouvidos seria uma sugestão adequada.

Aluno aplicado de grandes mestres e tendo-se aperfeiçoado com Magda Tagliaferro (com bolsa oferecida pelo governo francês), Fábio Caramuru colecionou vários prêmios aqui e acolá, procurando conhecer a fundo todas as regras para que mais tarde – ainda que não o soubesse – pudesse transgredi-las de maneira integral. Em Moods, Reflections, Moods, ele cristaliza esta sua transformação e deixa evidente sua conquista particular: mais do que livre de, ele está livre para.

Face a face com um piano Steinway modelo D concerto, o CD foi gravado durante uma única sessão de absoluto improviso, sem retoques posteriores de qualquer natureza. E o resultado concreto, para o consumidor final? No meu caso, o disco já faz parte de um pequeno e seleto repertório de cabeceira, e tem como vizinhos Sobre Todas as Coisas, de Zizi Possi, A Love Supreme, de John Coltrane e várias canções de Jacques Brel entre outros.

Moods, Reflections, Moods é o seu quinto disco (vale a pena frisar o interessante projeto gráfico – de extrema simplicidade e bom gosto ímpar – do sempre competente Guto Lacaz); os anteriores são “Tom Jobim Piano Solo” (1997), “Especiarias do Piano Paulista” (1999), “Dó Ré Mi Fon Fon – 27 cantigas brasileiras” (2002) e “Magda Tagliaferro Fest – Canções de Richard Rodgers – com Magda Painno” (2004).

Esta nova história que Fábio Caramuru nos conta através das notas musicais vai ser re-contada no próximo dia 21. E aqui, mais uma vez, o já estabelecido cede sua vez ao inusitado: ao invés de se apresentar ao vivo e registrar sua improvisação em um CD, ele se propõe interpretar o que já está gravado, sem partitura – já que ela não existe. Mas isto ainda não o satisfaz plenamente, e ele resolveu convidar – para esta apresentação especial – Pedro Baldanza, contrabaixista de música popular (a título de referência, ele tocou com Elis Regina, Gal Costa, Ney Matogrosso, Marina etc.). A parceria é, no mínimo, inusitada – e o desafio não é mera bravata, pois o respeitável público está sendo gentilmente convidado (a entrada é franca).

Se eu tivesse que resumir em uma palavra Moods, Reflections, Moods – em tempos de insossas manifestações artísticas globalizadas e de indistintos genéricos – eu optaria por personalidade. Parabéns, Fábio Caramuru! É muito bom ouvir um CD sem prazo determinado de validade.

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